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Armadilhas e encruzilhadas no STF

Posted by Cottidianos on 23:53

Segunda-feira, 26 de março


O ex-presidente Lula anda em caravana pelo Sul do Brasil. Mas quem pensa que ele anda tranquilo por lá está redondamente enganado.  Ele e seus seguidores têm sido constantemente atacados em diversas cidades daquela região.
Na tarde do domingo (25), a caravana foi atacada durante a passagem pela cidade de São Miguel do Oeste, em Santa Catarina. Pedras foram arremessadas contra os três ônibus que fazem o transporte do grupo, chegando a trincar os vidros de dois deles.
Quando os veículos pararam, o grupo de manifestantes contrários ao presidente arrancou os para-brisas do ônibus, e também atiraram ovos, e em seguida, mais pedras foram atiradas.
Às 08 da noite tudo parecia mais tranquilo, e Lula resolveu fazer um discurso. Entretanto, quando ele subiu no palco, a chuva de ovos voltou com força total. Um guarda-chuva foi aberto por um militante, evitando assim que o ex-presidente fosse atingido diretamente pelos ovos.
Esses fatos desagradáveis não aconteceram apenas em Santa Catarina, mas também em diversas outras cidades do Sul do Brasil, a caravana de Lula foi recebida com hostilidade.
Por falar no ex-presidente, hoje (26), o Tribunal Federal da 4a Região (TRF-4), julgou o recurso apresentado pela defesa dele no processo do Triplex no Guarujá. E, por unanimidade, rejeitou o pedido apresentado pelos advogados.
Apenas lembrando que no dia 24 de janeiro, três desembargadores da 8a Turma do TRF-4, julgaram a apelação contra a sentença, dada pelo juiz Sérgio Moro, e que condenou Lula a 9 anos e meio de prisão. Naquela ocasião, os desembargadores João Pedro Gebran Neto, Leandro Paulsen e Victor Luiz dos Santos Laus, não só resolveram manter a sentença dada por Moro, foram mais além, e aumentaram a pena de Lula para 12 anos e um mês de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tal tríplex do Guarujá.
Diante disso, os advogados do ex-presidente entraram, no dia 20 de janeiro, com embargos de declaração, que é um recurso que questiona possíveis contradições, obscuridades, ou omissões no julgamento, sem, entretanto, alterar o mérito da decisão.
No dia de hoje, o recurso foi analisado pelos mesmos três desembargadores da 8a Turma do TRF-4, que julgaram o recurso de apelação no dia 24 de janeiro deste ano. Com essa decisão dos desembargadores Lula já pode ser preso quando esgotarem-se os recursos naquela instancia jurídica.
Porém, como aqui no Brasil as conjunções adversativas mas, porém, todavia, contudo, entretanto, sempre resolvem dar o ar de sua graça de vez em quando, Lula não poderá ser preso até que o STF retome o julgamento do habeas corpus preventivo, apresentado naquela instancia superior pela defesa do presidente, e cujo objetivo é evitar que ele seja preso até que se esgotem todas as possibilidades de defesa. O julgamento será retomado pelo STF na próxima segunda, 04 de abril.
Aliás, desse julgamento vale relembrar as palavras ditas pelo ministro Luiz Roberto Barroso. Elas foram, na sessão daquele egrégio tribunal, realizada na quarta-feira (24), como uma espécie de manifesto contrário as palavras do também ministro, Gilmar Mendes. 
Gilmar se levantava contra a posição do STF de vedar o financiamento privado em campanha    as eleitorais e fazia isso com ironia e sarcasmo para com seus colegas de corte. O ministro critica a maneira como a corte muda votos para formar maioria, classificando isso como uma forma de manobra. Como exemplo, citou um caso em que Barroso havia atuado como relator e que resultou na revogação da prisão de cinco médicos que trabalhavam em uma clinica de aborto. Diz Gilmar:
Tomemos um cuidado, pelo menos vamos ler a Constituição e dizer: de fato estou declarando inconstitucional não porque eu gosto, ou porque eu acho que. Eu acho que é direito achando na rua. Eu acho o que quiser. Ache na Constituição. Eu posso achar o que quiser. Ah, que quero mudar isso, eu tenho vocação para mudança. Mude para o Congresso, consiga voto. Ah, eu sou iluminado! Talvez faça a viagem para o céu. Comece uma viagem espacial. Minha função é iluminar. Quem sabe tenhamos alguém faltando do planeta solar. Não é disso que se cuida, presidente. Nos temos grande responsabilidade institucional. É da Constituição que se cuida. Ah, mas isso ficou melhor. Não ficou melhor, o sistema ficou pior.
A explosão partidária tem a ver com decisão que nós produzimos. A tal da portabilidade, esse neologismo, também. Vejam a consequência desse tipo de situação. Não tenho a menor dúvida aqui. Eu já disse no meu voto que me parece inconstitucional. Tem que haver transparência, claro que continua a haver graves problemas. E é claro que naquela decisão nós fomos imbuídos. A própria OAB, por algo que vamos resolver o problema na esfera eleitoral. É preciso que a gente denuncie isso. Que a gente anteveja esse tipo de manobra Porque não se pode fazer isso com o Supremo Tribunal Federal. ‘Ah, agora, eu vou dar uma de esperto e vou conseguir a decisão do aborto, de preferência na turma com três ministros, e aí a gente faz um dois a um”.
Sentindo-se atingido, Barroso não se contém e diz a Mendes: “Me deixa de fora desse seu mau sentimento, você é uma pessoa horrível, uma mistura do mal, com atraso e pitadas de psicopatia. Isso não em nada a ver com o que está sendo julgado. É um absurdo vossa excelência vir aqui fazer um comício cheio de ofensas, grosserias. Vossa excelência não consegue articular um argumento, fica procurando, já ofendeu a presidente, já ofendeu o ministro Fux, agora chegou a mim. A vida para vossa excelência é ofender as pessoas, não tem nenhuma ideia, nenhuma, nenhuma, só ofende as pessoas.
Qual a sua ideia? Qual a sua proposta? Nenhuma! É bilis, ódio (...) É mau sentimento. É uma coisa horrível. Vossa excelência nos envergonha. Vossa excelência é uma desonra para este tribunal, uma desonra para todos nós. Esse temperamento agressivo, grosseiro, rude. É péssimo isso. Vossa excelência, sozinho, desonra este tribunal. É muito penoso para todos nós termos que conviver com vossa excelência. Não tem ideia, não tem nenhum patriotismo, está sempre correndo atrás de algum interesse...uma coisa horrorosa, uma vergonha, um constrangimento. É muito feio isso. Estamos num supremo tribunal”.
O julgamento do habeas corpus de Lula pelo STF é uma decisão importantíssima para os rumos da Lava Jato e para o restabelecimento da moralidade em nosso país, por que, na esteira dele, estará o fato da decisão da questão da prisão após julgamento na segunda instância.
Não deixa de ser uma armadilha para o STF, pois se for revertida a decisão proposta pelo mesmo tribunal  — em 2016, o tribunal decidiu por seis votos a cinco, que a execução da pena pode ser feita antes da analise de recursos por parte de tribunais superiores — Se voltar atrás em sua decisão em sua decisão, o STF será um poder que se desdiz. Se ceder a pressão dos advogados de Lula, que moral tem para exercer sua autoridade?
A questão é que tem muitos políticos com a mira da Lava Jato apontada para eles, e correndo o risco de também serem presos, e como diz o ditado popular “ver o sol nascer quadrado”, inclusive o presidente Temer.
Nesse sentido, não é apenas os advogados de Lula a quem interesse a revisão da decisão sobre prisão após condenação em segunda instancia. Interessa, sim, aos políticos corruptos de nosso país.
A pergunta que não quer calar em toda essa questão é: do lado de quem ficará os ministros do STF no julgamento do dia 04 de abril? Do lado da moralidade e da justiça, ou do lado dos políticos corruptos e ladrões? Ou será que dirá como Pôncio Pilatos: “Lavo minhas mãos”.

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Guerra suja na Internet

Posted by Cottidianos on 00:11

Quinta-feira, 22 de março


Já lá se vão bem longe os tempos que os recados e notícias eram levados em pergaminhos e demoravam dias ou meses para chegar aos seus destinatários. Nos dias atuais, não. Tudo anda e gira muito rápido. Bilhões de notícias circulam pelo mundo todos os dias através da Internet, e as redes sociais vieram intensificar ainda mais os fios dessa grande teia mundial, ao conectar pessoas do mundo inteiro.
Nos tempos que os mensageiros andavam com seus pergaminhos para cima e para baixo havia uma clara diferenciação entre a vida pública e a vida privada do povo daquelas remotas eras. Nos dias atuais, essa diferenciação é muito tênue. Já não somos mais tão donos de nossos dados pessoais quanto o éramos no passado. Eles estão por aí, nas nuvens, nas redes que interconectam nosso moderno mundo.
Ainda nesse jogo de ida e volta no tempo, podemos lembrar ainda da era das grandes navegações, e dos intrépidos navegantes que, constantemente eram atacados por piratas que lhes roubavam os tesouros e sumiam na vastidão do oceano. Transmutando isso para os tempos modernos temos que o vasto oceano é a Internet; os intrépidos navegantes são os internautas; e os piratas são aqueles que se aproveitam das ondas da Internet e das redes sociais para roubar dados pessoais, desviar dinheiro de contas bancárias, espalhar notícia falsas e tantas outras formas de prejudicar outrem.
Verdadeiras guerras virtuais entre o bem e o mal são travadas a cada instante na vastidão oceânica da rede mundial de computadores. Basta você digitar suas senhas em site mal-intencionados e o estrago está feito. Se você baixa um jogo inocente, ou até mesmo se você participar de um teste de personalidade online, seus dados já foram gravados, capturados, e colocados em poder de empresas que podem fazer deles bom ou mau uso.
O pior é que esses dados podem servir para manipular e influenciar não apenas você, mas também outros milhões de usuários. Este é um grande desafio do mundo moderno, pois essa manipulação de dados é capaz de influenciar os indivíduos e mudar os destinos, os rumos de uma nação, atingindo diretamente o coração daquela que deveria ser soberana: a democracia. Nesse sentido, essa guerra virtual acaba se transformando numa questão de estado.
Robôs. Fake News. Perfis falsos. Essas são as ameaças que podem estar rondando o internauta sem que este se dê conta disso.
No sábado 17, veio à tona aquele que é talvez, o maior escândalo político jamais visto na Internet, e foi revelado pelo britânico The Observer, e pelo americano The New York Times.
Vamos aos fatos.
Em 2013, foi criada a Cambridge Analytica com obtivo de atuar na política norte-americana. O patrono da empresa, o bilionário Robert Mercer, despejou 15 de milhões de dólares no investimento. Até bem pouco bem tempo essa empresa era comandada por Steve Bannon, ex-assessor do presidente norte-americano Donald Trump. Hoje, Bannon presta serviços de consultoria à extremista francesa Marine Le Pen. Foi Robert Mercer que apadrinhou Steve Bannon.
A Cambridge Analytica chegou ao mercado com propostas inovadoras e miraculosas a serem empregadas no campo de batalha das guerras eleitorais. Porém, de acordo com o delator Christopher Wylie, o objetivo da Cambridge era bem mais ambicioso. Segundo ele, a empresa foi criada para “manipular os demônios internos dos usuários do Facebook, e assim influenciar as eleições”.  Se olharmos para o resultado das eleições americanas, veremos que o objetivo da empresa foi atingido em 100%.
O método aplicado pela empresa era colher dados online e criar perfis dos eleitores. As fichas eram usadas como alvo para a publicidade eleitoral. Um método de pesquisa que, aliás, difere das pesquisas baseadas nos padrões tradicionais que conhecemos, quais sejam, idade, raça, sexo, e classe social. Por esse método o eleitor era analisado pela sua parte mais frágil, e que engloba todas as categorias acima citadas: as tendências emocionais. De uma só tacada a Cambridge ia direto à veia jugular de cada um deles, influenciando-os fortemente.
Em 2014, centenas de milhares de usuários do Facebook realizaram um teste de personalidade, com a promessa de que seus dados seriam usados para fins acadêmicos. O teste media se uma pessoa era aberta às experiências, se era meticulosa, amável, extrovertida, e todos esses itens das quais são compostos os testes de personalidade.
Segundo o The Observer, os dados foram coletados a partir de um aplicativo, denominado, “thisisyourdigitallife”. Ainda segundo o jornal britânico, o aplicativo foi criado pelo pesquisador da Universidade de Cambridge, Aleksander Kogan, à parte de seu trabalho na universidade.
O que os usuários não sabiam eram que os seus dados seriam usados para fins de manipulação no território da guerra eleitoral suja, e que, pior ainda, através deles, também estariam sendo coletados os dados de amigos da sua lista de contatos. O resultado foi que mais de 50 milhões de perfis do Facebook foram usados indevidamente, através da atuação da Cambridge, constituindo assim uma das maiores violações de dados da história do Facebook.
A empresa, além de comercializar dados sem autorização da rede social, ainda manteve a maior parte ou até mesmo a totalidade das informações coletadas, descumprindo ainda mais a política de privacidade do Face.
Depois da suspeita de que os russos ajudaram a eleger Donald Trump, o governo americano ainda tem mais essa batata quente nas mãos, pois a Cambridge Analytica foi contratada em 2016 para atuar na eleição do candidato Trump, serviço pela qual foi bem remunerada: mais de 6,2 milhões de dólares, de acordo com a Comissão Eleitoral Federal.
A verdade é que o Face vem tentando se desvincular dessas notícias de arrepiar os cabelos até dos mais céticos. Na sexta-feira (16), a empresa disse que Kogan, argumentou que o aplicativo seria usado por psicólogos para fins de pesquisas comportamentais.
Todo esse escândalo veio à tona após as denúncias de Christopher Wylie. Wylie, um jovem de 28 anos, à época trabalhava para a Cambridge e ajudou a coletar os dados dos usuários. “Exploramos o Facebook para colher perfis de milhões de pessoas. E construímos modelos para explorar o que sabíamos sobre eles e direcionamos seus demônios internos. Essa foi a base em que toda a empresa foi construída”, disse ele.
Porém a consciência pesou, e muito, e o jovem resolveu denunciar a manipulação eleitoral praticada pela Cambridge. O motivo? Wylie diz que se arrependeu de ter trabalhado para um candidato a quem ele considera um psicopata.
Segundo essa novas denúncias do The Obeserver e do The New York Times, podemos concluir que Trump teve bem mais que a ajuda dos russos para se eleger presidente. Em uma eleição democrática?
A Cambridge Analytica já estava estendendo seus braços também para oferecer seus serviços para as campanhas eleitorais brasileiras, mas sabendo de todo esse escândalo, a empresa do marqueteiro André Torreta, que havia contratado a empresa, já disse que não renovará o contrato com ela.
Há que se ter muito cuidado até com os cliques que se dá no Facebook, ou em outras redes sociais... Pois eles podem estar sugando seus dados, que por sua vez, servirão para manipular mentes e corações, inclusive a sua.

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Quem matou Marielle Franco?

Posted by Cottidianos on 00:23
Sexta-feira, 16 de março

O mundo todo marcado
A ferro, fogo e desprezo
A vida é o fio do tempo
A morte é o fim do novelo.
O olhar que assusta
Anda morto
O olhar que avisa
Anda aceso
(Desenredo – Dori Caymmi)


 Se o Brasil não a conhecia hoje passou a conhecer. Tarde demais? Não de forma alguma! Seu nome ficará marcado nas causas que defendeu, nas pessoas que ajudou, e no futuro no qual acreditou.

Marielle Franco é o nome dela. Em um país que discrimina negros, pobres e mulheres, ela conseguiu formar-se na universidade e entrar na política — um território ainda dominado pelos homens — e dela fez seu microfone para gritar bem alto: Não a injustiça, não a violência, basta de desigualdade.
Vereadora na cidade do Rio de Janeiro, na noite de quarta-feira (14), ela tinha acabado de participar de um encontro com mulheres negras, na Lapa, Centro do Rio. Aliás, essa era a vida de Marielle: em um mundo em que as pessoas parecem ter se esquecido de promover a vida, e saem por aí se agredindo, humilhando, diminuindo e maltratando o outro, se não com atos, mas com palavras, as quais, muitas vezes, ferem e machucam tanto quanto uma ferida no corpo, ela ajudava a resgatar a autoestima nas pessoas nas quais ela já começava a faltar, ou mesmo já tinha acabado de vez.
O encontro terminou por volta das nove da noite, e Marielle, o motorista dela, Anderson Pedro Gomes, e uma assessora da vereadora, entraram no carro, e rumaram para casa, certamente, com a sensação de missão cumprida para aquela noite. Já haviam percorrido três quilômetros quando chegaram ao bairro do Estácio, ainda na região central da cidade. Aí encontraram o terror, a fatalidade e a morte.
Um carro emparelhou com o carro em que eles viajavam, e, em uma ação rápida, deram nove tiros, e fugiram. Todos os tiros foram disparados do lado direito, que era onde viajava Marielle. Quatro tiros atingiram a vereadora na cabeça. O motorista foi baleado três vezes nas costas. Os dois morreram na hora. A assessora que viajava ao lado da vereadora, teve apenas ferimentos leves provocados pelos estilhaços dos vidros do carro.
Calaram uma voz que se levantava contra as injustiças cometidas contra as mulheres e homens negros, contra a discriminação contra os gays e lésbicas, contra os praticantes das religiões afro-brasileiras, e contra a violência praticada pelos policiais contra o povo das favelas.

Marielle perdeu a vida em ato de violência praticado contra ela, e coincidentemente, entrou para a luta em defesa dos oprimidos quando perdeu uma amiga, vítima de uma bala perdida, na favela onde nasceu. Apesar dos recursos e das muitas dificuldades, foi estudante bolsista na PUC-Rio, e formou-se em Sociologia naquela universidade. Depois, fez mestrado em Administração Pública na Universidade Federal Fluminense. Nas eleições de 2016, candidatou-se a vereadora pela cidade do Rio de Janeiro. Esperava ter cerca de 6.000 votos, 7.000, no máximo. Teve 46.502, tornando-se a quinta candidata mais votada na cidade.
Apesar do pouco tempo de mandato, tinha uma participação ativa naquela casa legislativa. Presidia a Comissão de Defesa da Mulher, além disso, juntamente com mais três vereadores, participava como relatora em uma comissão criada em fevereiro para acompanhar os trabalhos da intervenção federal na área de segurança pública do Rio de Janeiro.
Ultimamente, questionava as ações violentas da polícia contra os moradores da favela. “O que está acontecendo agora em Acari é um absurdo! E acontece desde sempre! O 41° batalhão da PM é conhecido como Batalhão da morte. CHEGA de esculachar a população! CHEGA de matarem nossos jovens!”, escreveu ela nas redes sociais, no último dia 10.
Mariele se foi, mas deixou as sementes de suas aspirações e anseios de um Brasil mais justo plantadas, e elas, queira Deus, haverão de florescer.

Sob o manto de um Rio de Janeiro em lágrimas, e um Brasil em choque, milhares de pessoas acompanharam, nesta quinta-feira (15), o velório e enterro da vereadora, e do motoristas dela. Os corpos foram velados na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. O corpo de Marielle foi sepultado no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Zona Portuária, enquanto o corpo de Anderson foi levado para o Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte.
Todos os indícios do crime apontam para uma execução. Um ato muito bem planejado. A vereadora não costumava viajar no banco de trás como aconteceu na noite do crime. Além disso, os vidros do carro tinha película escura, e não havia como, em uma ação rápida, identificar quem estava sentado e onde. O provável é que os assassinos já estivessem vendo toda a movimentação do grupo desde que eles saíram da Lapa.
A morte da vereadora, Marielle Franco, do motorista, Anderson Gomes, e tantas outras mortes de inocentes que tem acontecido no Rio de Janeiro, apenas mostram que o Rio se tornou um território sem lei, terra de ninguém, sob a qual o poder público perdeu o controle.
A imensa corrupção que tomou conta do estado atingiu a base de todas as instituições, desde a polícia até o governo, há muita gente conivente com o crime e com a roubalheira. Vai ser muito difícil a cidade e o estado do Rio de Janeiro arrumar a casa. Difícil, mas não impossível. Para isso é preciso que, a cada Marielle que morre, dez abracem a causa.
Com o crime praticado contra a vereadora na noite de quarta-feira (14), e que vitimou também o motorista Anderson Gomes, os criminosos, claramente, desfiaram o poder público, em um momento em que o Rio está sob intervenção federal. E se o poder público quiser ainda erguer a cabeça, e mostrar um pouco de respeito, ordem, e dignidade, vai ter que dar respostas, e rápido, a duas pergunta que todos se tem feito: quem matou Marielle, e por quê?

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Bêbados equilibristas

Posted by Cottidianos on 00:17

Terça-feira, 13 de março


O Brasil que eu espero do futuro é um Brasil onde os políticos não vejam na política um meio de enriquecimento ilícito e que o povo se sinta verdadeiramente representado por eles
Fernando Souza
Cachoeira do Urubu – Primavera/Pernambuco

O Brasil que eu quero seria um Brasil com a metade dos deputados estaduais e federais, e senadores, e que todos os políticos só se aposentassem com oito mandatos
Ulisses Ramos
Paracatu / Minas Gerais

O futuro que eu quero para o Brasil é que reapareça de alguma forma, todo o dinheiro que dele foi levado, melhorando a minha vida e de cada brasileiro
Ângela Cavalcanti
Boa Vista / Roraima

O futuro que eu quero para o meu país é como dizia o poeta e cantador Flávio Leandro: “Não quero enchentes de caridade, só quero chuvas de honestidade, molhando as terras do meu sertão
Letícia Sampaio
Moreilândia – Pernambuco

O Brasil que eu quero é um país onde seja investido mais na educação, na construção de escolas e universidades, e uma maior valorização dos professores, essa, sim é a grande transformação que nós precisamos
Audrey Correia
Itanhém – Bahia

Eu quero um Brasil sem corrupção, com igualdade a todos, onde nós possamos ver o retorno dos nossos impostos, e não que sirva para pagar os filhos, nem bancar a vida boa de políticos. Chega desse circo. Façam valer a ordem e o progresso que nós merecemos e que ainda não vimos
Mayara Silva
Araguaína - Tocantins

Eu tive câncer. Superei. Eu quero um país com mais saúde.  Sou professora. Quero um país com educação. Eu falei a verdade. Quero um país sem mentiras
Regina Contini
São José dos Campos – São Paulo

Esses são apenas alguns depoimentos postados no portal Globo.com, na campanha “Que Brasil você quer para o futuro?” A campanha, lançada pela Rede Globo, tem por objetivo ouvir dos brasileiros de todos os recantos do país, que nação eles querem de fato e de direito. Os vídeos são enviados, selecionados, e apresentados nos diversos telejornais da emissora. Eles são exibidos diariamente, e começaram a ser apresentados no dia 05 deste mês deste, durante o Jornal Nacional, e continuarão até setembro durante a programação jornalística da emissora, de forma que cada um dos 5.500 munícipios brasileiros tenha um representante a dizer dos seus sonhos de futuro para o país.
A ideia da emissora era a de que aqueles que enviassem vídeos o fizessem de lugares bonitos e bem arrumados, lugares padrão, mas tem gente enviando vídeos daquilo que é realidade, ou seja, tendo como pano de fundo, pontes mal construídas, hospitais superlotados, e outros ambientes que, de bonito, não tem nada.
É impressionante como a quase unanimidade dos vídeos enviados até agora, tocam a mesma música, batem na mesma tecla, choram a mesma nota: a luta contra a corrupção. Parece como um grito preso na garganta, ou comida indigesta que o brasileiro não está mais disposto a engolir.
É verdade que há um clamor em todo o solo brasileiro, do Oiapoque ao Chuí, por um Brasil que seja governado, não por ladrões, mas por gente de bem, por políticos comprometidos com os anseios do povo brasileiro.
Os versos de João Bosco e Aldir Blanc, na canção, O Bêbado e o Equilibrista, tão bem interpretados pela bela voz da saudosa, Elis Regina, se encaixam como uma luva nas presentes considerações acerca desse momento conturbado pelo qual atravessa o país, e que nos remetem a reflexões sobre o futuro da nação, que, por sua vez, é o futuro de cada um dos seus patrícios.
Dizem os compositores na letra da canção: “Chora! A nossa pátria mãe gentil. Choram Marias e Clarices no solo do Brasil... Mas sei, que uma dor assim pungente não há de ser inutilmente a esperança... Dança na corda bamba de sombrinha, e em cada passo dessa linha pode se machucar... Azar! A esperança equilibrista sabe que o show de todo artista tem que continuar...”
E são tantas as notícias sobre corrupção e desvios de dinheiro que nos vem à tona, todos os dias, que saímos por aí afora, tal qual bêbados equilibristas, fazendo reverencias para a noite do Brasil. Sabe-se que o bêbado valente é aquele que tropeça, mas não cai. Assim estamos nós todos que pagamos impostos altíssimos, e não vemos retorno. Inebriados com tantas notícias de descaso da classe política para com a população, tropeçamos, mas não caímos, pois sabemos que, para aguentar tudo isso, tem que ser muito artista, e o show de todo artista tem que continuar, não pode parar, nem desanimar. Se faltar brilho, a gente pede a cada estrela fria um brilho de aluguel, sacudimos a poeira e damos a volta por cima.
O combustível de que precisamos para nos mover deve ser a esperança de que as coisas vão melhorar, mas também nessa esperança a nos mover deve ter certa dose de indignação, pois de outro modo, corremos o risco de cair no marasmo, essa região danosa, cheia de pântanos e charcos, à qual já nos entregamos por tantos anos.
Falamos e vemos falar muito de corrupção em níveis governamentais, e precisamos combate-la, mas também não nos esqueçamos que no seio da sociedade há muitas maças estragadas, belas maças que se deixaram corromper por esse vírus mortal, exterminador de sonhos e esperanças de futuro que tão duramente tem sido combatido pela Operação Lava Jato, e por outras operações desenvolvidas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, com aval das instituições jurídicas.
É preciso também nos voltarmos contra essas maças, tirá-las do cesto, jogá-las fora, antes que elas, com seus maus exemplos, corrompam ainda mais outras parcelas da sociedade. E precisamos fazer isto justamente para preservar o restante das frutas do cesto. Pois que irá querer comprar um cesto de maças podres? Isso ninguém quer, nem os mercados nacionais, nem os mercados internacionais. Lembremos que estes últimos, principalmente, estão de olhos em nosso comportamento, em nossos modos de fazer licitações, de combater a corrupção.
É preciso tirar desse tal cesto de maças indigestas gente como Luciana Sandrini Rihl, dona de uma clínica no Rio Grande do Sul, que fingia aplicar injeções nas pessoas, mas retirava a agulha antes de pressionar a seringa. As vacinas oferecidas pela clínica eram contra febre amarela, meningite B e meningite ACWY. Pessoas desonestas como ela, também temos aos montes agindo por aí afora. Como uma pessoa que age indecente e imoralmente contra outro ser humano pode reivindicar decência da classe política, para si mesma, para seus familiares e para o país?
É a dita coisa que dizia o mestre Jesus nas sagradas escrituras: “Como podes querer tirar o cisco do olho do teu irmão quando há uma trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a chave do teu olho e então podereis ver com clareza para tirar o cisco do olho do teu irmão”.
Se a classe política está corrompida, mas a sociedade não, ainda resta uma esperança, mas se ambos os dois se deixaram seduzir pelas tentações da corrupção, então que esperança de futuro há para essa sociedade senão, à exemplo do joio, ser recolhida em feixes e queimada no fogo da desilusão?
Passeando pelas manchetes de jornais, diariamente, vemos que alguma das engrenagens do nosso sistema partidário anda muito mal das pernas. Deveríamos ter orgulho de nossos presidentes e de nossos ex-presidentes. Mas que decepção: apenas para ficarmos nos três últimos. Quem temos e do que temos que nos orgulhar? O ex-presidente Lula já está condenado em processo judicial pelo caso do tríplex do Guarujá, recorre em liberdade contra essa decisão judicial, sem contar que é réu em mais outros seis processos. A ex-presidente Dilma também está envolta em suspeitas de uma série de delitos, juntamente com a cúpula do PT. O atual presidente, Michel Temer, também é investigado em operações policiais por suspeita de corrupção.
Saindo do topo da pirâmide das lideranças políticas, o degrau imediato também não é diferente. Governadores, deputados federais e estaduais, e senadores, estão na mira da justiça. Alguns inclusive já estão presos, e descendo ainda mais no mesmo mar de lama, temos a participação de funcionários públicos em todos esses esquemas criminosos. Ah, e não nos esqueçamos das quadrilhas organizadas do setor privado, principalmente, as empreiteiras.
Para terminar, lembremos, mais uma vez as maravilhosas interpretações de Elis Regina, desta vez na canção, Alô, Alô, Marciano, e demos um alô a esse povo perdido por aí, no espaço — ou será que não somos nós a vagar errantes no espaço e no tempo — e digamos a eles: “Alô, alô, marciano, a crise tá virando zona, cada um por si todo mundo na lona, e lá se foi a mordomia. Tem muito rei aí pedindo alforria porque tá cada vez mais down o high societ”.



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Coisa de cinema

Posted by Cottidianos on 01:16
Terça-feira, 06 de março
Quando eu vivia e morria na cidade
Eu não tinha nada, nada a temer
Mas eu tinha medo, medo dessa estrada
Olhe só, veja você
Quando eu vivia e morria na cidade
Eu tinha de tudo, tudo ao meu redor
Mas tudo que eu sentia era que algo me faltava
E à noite eu acordava banhado em suor
(Infinita Highway – Engenheiros do Hawaii)


 Noite de domingo. 4 de março. 21h30min
Aeroporto de Viracopos
Campinas – São Paulo
 O cuidado com a segurança e vigilância no aeroporto é intenso. Mil câmeras de monitoramento espalhadas por todo o local são como olhos vigilantes prontos a denunciar qualquer irregularidade. Se houver algum problema os usuários ainda têm à disposição delegacias de Policia Civil e Federal. Dentro e fora do aeroporto, as equipes de vigilância cumprem seu papel em todo esse esquema. Tudo para que aviões aterrissem e decolem com segurança, cargas cheguem e partam sem sobressaltos aos seus destinos, e que as centenas de pessoas que passam todos os dias pelo aeroporto sintam-se tranquilos.
Todos os atores desse espetáculo estavam a postos, e a noite de domingo corria sem maiores incidentes. Como de costume, os carros da equipe de segurança circulavam pelo local. Na pista do terminal de cargas estava parado um avião da Lufthansa que havia saído do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. A aeronave havia feito escala em Viracopos para que pudesse receber mais um lote de carga. A carga transportada nela tinha peso de ouro: cinco milhões de dólares estavam prontos para o embarque. Os dólares seguiriam para Zurique, Suíça , o destino final do voo, entretanto, era Frankfurt, Alemanha. Todo cuidado com a carga era pouco.
Nesse interim, surgiu pela pista uma caminhonete Hilux, com adesivos da segurança do aeroporto. Os homens que faziam o embarque da carga ficaram tranquilos. Devem ter pensado: ainda bem que a equipe de segurança faz o seu trabalho, assim ficamos mais sossegados.
De repente, cinco homens fortemente armados com fuzis, saíram de dentro da caminhonete, renderam os homens que faziam o serviço e, em uma ação cinematográfica, roubaram os malotes com os US$ 5 milhões (R$ 16 milhões).
Os bandidos que, para chegar até a carga, haviam derrubado uma parte do alambrado que fica atrás do aeroporto, mais a frente, derrubaram um portão. No caminho encontraram um carro da equipe de segurança que transportava dois funcionários, e os renderam. Ficaram livres então para seguir para o terminal de cargas sem serem incomodados. Fizeram o ousado assalto e voltaram do mesmo modo, e pelo mesmo caminho pelo qual entraram. A ação dos assaltantes levou seis minutos. Eles, certamente, tinham informações privilegiadas dos horários da carga transportada pela aeronave.  
Há ainda muitos pontos de interrogação acerca do caso, um deles é porque os malotes de dólares estavam fora do avião, quando os bandidos chegaram. A Polícia Federal investiga o caso, mas até agora, não se tem pistas dos criminosos. Outros pontos ainda permanecem obscuros, como por exemplo, de quem era esse dinheiro, e porque ele estava sendo levado em malotes na aeronave, e não através de instituições bancárias. Como diria a letra da música de Zé Ramalho: “Mistérios da Meia-Noite que voam longe, que você nunca, não sabe nunca, se vão se ficam, quem vai quem foi...”


Girando o moinho, mas permanecendo no mesmo eixo...
A quantia roubada pelos assaltantes em Viracopos chama a atenção, porém, o que foi desviado dos cofres públicos brasileiros pelos assaltantes que vestem ternos, fazem e executam leis, supera em muito esse valor...
Por falar nisso, Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal, determinou a quebra de sigilo bancário do presidente Michel Temer no inquérito que apura o envolvimento dele na edição do Decreto dos Portos, que teria beneficiado empresas do setor portuário.
A assessoria de imprensa do presidente disse que ele pedirá o extrato de suas contas ao Banco Central e que o presidente dará à imprensa total acesso aos documentos, e que o mesmo não tem nenhuma preocupação em relação à informações de sua conta bancária.
Essa é a primeira vez, que um presidente, em pleno exercício do mandato, tem o sigilo de suas contas bancárias quebrado por ordem judicial. O período que compreende a quebra de sigilo de Temer é de janeiro de 2013 a junho de 2017.
Na semana passada, outro ministro do Supremo, Edson Fachin, que é relator da Lava Jato naquela instituição, autorizou a inclusão de Temer como investigado em inquérito que apura repasses de dinheiro da Odebrecht ao MDB, em 2014. Os acertos para o repasse teriam sido feitos em maio de 2014, em um jantar, no Palácio do Jaburu, quando Temer ainda era Vice-Presidente. Nesse inquérito também estão envolvidos os ministros, Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e Eliseu Padilha (Casa Civil).
Quanto a essa questão da nomenclatura, em dezembro, o PMDB, em sua convenção nacional, realizada, realizada em dezembro do ano passado, em Brasília, por voto majoritário dos delegados do partido, resolveu trocar o nome da sigla para MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Na verdade teria sido bom que não tivessem apenas trocado o nome da sigla, mas também os princípios que norteiam as ações de seus dirigentes, mas isso é coisa mais difícil de se fazer, melhor mudar o nome da sigla mesmo, simples assim.
A inclusão de Temer nesse inquérito foi pedido pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Ainda no mesmo pedido Fachin atendeu a um pedido da Polícia Federal para que o prazo do inquérito fosse prorrogado.
E agora Temer nem pode mais contar com seu fiel escudeiro, o delegado Fernando Segovia que ocupava o posto de diretor-geral da PF, e cujo decreto de exoneração foi publicado na quinta-feira, 1 de março, no Diário Oficial da União. Sogovia foi designado para o posto de Adido Policial Federal na Embaixada do Brasil em Roma, por três anos. Para o lugar dele foi nomeado Rogério Galloro. A troca foi um dos primeiros atos do ministro da Justiça, Raul Jungmann, e anunciada no dia 27 de fevereiro.

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